Vá Gina! Vá!

As próximas linhas, no seu conjunto, formam uma fábula. Mas uma fábula das boas. Tão boa que vê-se logo que não foi escrita por mim. Tão boa, tão boa que arruma para o lado o George Orwell e a sua Animal Farm (A Revolução dos Bichos - traduções à brasileira - ou O Porco Triunfante/​O Triunfo dos Porcos/​A Quinta dos Ani­mais ). Tão boa, tão boa, tão boa que nem Esopo escreveria melhor.

A Cigarra e a Formiga (versões Alemã e Portuguesa).

Versão alemã:


A formiga trabalha durante todo o Verão debaixo de Sol. Constrói a sua casa
e enche-a de provisões para o Inverno.

A cigarra acha que a formiga é burra, ri, vai para a praia, bebe umas
bejecas, vai ao Rock in Rio e deixa o tempo passar.

Quando chega o Inverno a formiga está quentinha e bem alimentada. A cigarra
está cheia de frio, não tem casa nem comida e morre de fome.

Fim.


Versão portuguesa:

A formiga trabalha durante todo o Verão debaixo de Sol. Constrói a sua casa
e enche-a de provisões para o Inverno.

A cigarra acha que a formiga é burra, ri, vai para a praia, bebe umas
bejecas, vai ao Rock in Rio e deixa o tempo passar.

Quando chega o Inverno a formiga está quentinha e bem alimentada.

A cigarra, cheia de frio, organiza uma conferência de imprensa e pergunta
porque é que a formiga tem o direito de estar quentinha e bem alimentada
enquanto as pobres cigarras, que não tiveram sorte na vida, têm fome e frio.

A televisão organiza emissões em directo que mostram a cigarra a tremer de
frio e esfomeada ao mesmo tempo que exibem vídeos da formiga em casa, toda
quentinha, a comer o seu jantar com uma mesa cheia de coisas boas à sua
frente.

A opinião pública tuga escandaliza-se porque não é justo que uns passem fome
enquanto outros vivem no bem bom. As associações anti pobreza manifestam-se
diante da casa da formiga. Os jornalistas organizam entrevistas e mesas
redondas com montes de comentadores que comentam a forma injusta como a
formiga enriqueceu à custa da cigarra e exigem ao Governo que aumente os
impostos da formiga para contribuir para a solidariedade social.

A CGTP, o PCP, o BE, os Verdes, a Geração à Rasca, os Indignados e a ala
esquerda do PS com a Helena Roseta e a Ana Gomes à frente e o apoio
implícito do Mário Soares organizam manifestações diante da casa da formiga.

Os funcionários públicos e os transportes decidem fazer uma greve de
solidariedade de uma hora por dia (os transportes à hora de ponta) de
duração ilimitada.

Fernando Rosas escreve um livro que demonstra as ligações da formiga com os
nazis de Auschwitz.

Para responder às sondagens o Governo faz passar uma lei sobre a igualdade
económica e outra de anti descriminação (esta com efeitos retroactivos ao
princípio do Verão).

Os impostos da formiga são aumentados sete vezes e simultaneamente é multada
por não ter dado emprego à cigarra. A casa da formiga é confiscada pelas
Finanças porque a formiga não tem dinheiro que chegue para pagar os impostos
e a multa.

A formiga abandona Portugal e vai-se instalar na Suíça onde, passado pouco
tempo, começa a contribuir para o desenvolvimento da economia local.

A televisão faz uma reportagem sobre a cigarra, agora instalada na casa da
formiga e a comer os bens que aquela teve de deixar para trás.

Embora a Primavera ainda venha longe já conseguiu dar cabo das provisões
todas organizando umas "parties" com os amigos e umas "raves" com os
artistas e escritores progressistas que duram até de madrugada. Sérgio
Godinho compõe a canção de protesto "Formiga fascista, inimiga do artista...
.

A antiga casa da formiga deteriora-se rapidamente porque a cigarra está-se nas tintas
para a sua conservação. Em vez disso queixa-se que o Governo não faz
nada para manter a casa como deve de ser. É nomeada uma comissão de
inquérito para averiguar as causas da decrepitude da casa da formiga. O
custo da comissão (interpartidária mais parceiros sociais) vai para o
Orçamento de Estado: são 3 milhões de euros por ano.

Enquanto a comissão prepara a primeira reunião para daí a três meses, a
cigarra morre de overdose.

Rui Tavares comenta no Público a incapacidade do Governo para corrigir o
problema da desigualdade social e para evitar as causas que levaram a
cigarra à depressão e ao suicídio.

A casa da formiga, ao abandono, é ocupada por um bando de baratas,
imigrantes ilegais, que há já dois anos que foram intimadas a sair do País
mas que decidiram cá ficar, dedicando-se ao tráfego da droga e a aterrorizar
a vizinhança.

Ana Gomes um pouco a despropósito afirma que as carências da integração
social se devem à compra dos submarinos, faz uma relação que só ela entende
entre as baratas ilegais e os voos da CIA e aproveita para insultar Paulo
Portas.

Entretanto o Governo felicita-se pela diversidade cultural do País e pela
sua aptidão para integrar harmoniosamente as diferenças sociais e as
contribuições das diversas comunidades que nele encontraram uma vida melhor.

A formiga, entretanto, refez a vida na Suíça e está quase milionária...

FIM.

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