Xôer que sim

O senhor A. F. Mota Oliveira, um pouco como todos nós, está...

..."Sem Dinheiro"

"Há pessoas que não compreendem o que está a acontecer presentemente, devido à viragem registada na política económica seguida pelo actual governo. Aquilo que motivou a viragem é consequência directa da falta de dinheiro, ou melhor, da falta de fontes de financiamento.

Dantes, o crédito era abundante, tanto que as restrições colocadas na sua distribuição eram mínimas, ou simplesmente não existiam. Vivia-se num ambiente de grande facilitismo, o que fez com que muitos agentes económicos e o próprio Estado se endividassem sem cuidar de saber como iriam depois reembolsar os financiamentos.

A política do endividamento não é em si própria uma operação económica condenável, desde que a riqueza gerada por esses meios financeiros permita realizar os reembolsos. Importa, também, relacionar as taxas de crescimento da economia com as taxas de juro dos empréstimos. As taxas de crescimento da economia devem ser superiores às taxas de juro dos empréstimos. Como nem sempre estas condições são devidamente observadas, o que acontece a seguir é, geralmente, inevitável: o recurso a novos financiamentos até se chegar a uma situação extrema que leva os mercados financeiros a fecharem a torneira do crédito.

O endividamento do Estado foi basicamente resultado de políticas económicas expansionistas que tiveram por objectivo suprir a crise económica internacional. A falta de rigor e controlo das medidas que fizeram parte desta política originou um défice público monstruoso. Tudo isto aconteceu muito rapidamente, nos últimos dois a três anos. A situação tornou-se muito crítica, o que levou os mercados a deixarem de comprar dívida pública ou a exigir taxas de juro elevadíssimas para continuarem a fazê-lo. Chegou-se, num ápice, a uma situação completamente insustentável.

A Comissão da União Europeia actuou inicialmente, exigindo o cumprimento das condições impostas aos países membros da moeda única, no sentido da observância das metas acordadas para o défice, inferior a 3% do PIB, e para a dívida pública, que não poderia ultrapasse os 60% do PIB. Quando se deu conta de que o país estava a resvalar para uma situação próxima da bancarrota, foram a União Europeia e o Fundo Monetário Internacional que disponibilizaram uma ajuda financeira destinada a suprir a falta de financiamento da economia, colocando no entanto condições.

São estas condições que o país tem de cumprir para que a ajuda se mantenha. Sem alternativas, ao governo só lhe resta seguir uma política económica de carácter estruturante, única, capaz de produzir efeitos positivos neste quadro, mas para isso muita coisa terá de mudar, pois não é possível alcançar bons resultados mantendo inalterado o contexto de funcionamento da economia. Na gíria futebolística, quando uma equipa deixou de ganhar a opção normalmente seguida é mudar de treinador, para que as tácticas de jogo mudem e os resultados passem a ser diferentes. É isto que está a acontecer em termos económicos, uma mudança de paradigma, mas para isso é necessário contar com a adesão das pessoas. A regra da imposição, pura e simples, pode não conduzir aos melhores resultados, razão pela qual o governo deve procurar explicar às pessoas que, no actual quadro económico, só existe uma saída, a da austeridade, como forma de conseguir reequilibrar as contas públicas.

Só depois de cumprido este objectivo é que será possível fomentar o crescimento económico, uma vez que é inteiramente plausível que os mercados financeiros tenham entretanto mudado de opinião. Até lá, temos de compreender que o esforço que está a ser exigido é incontornável, daí que não valha a pena protestar para manter de pé tudo aquilo que nos conduziu a esta situação. Haverá quem nunca o entenda, mas quem assim pensa deveria explicar como se consegue, sem dinheiro, repito sem dinheiro, seguir outra política económica.

“Casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão”. É verdade, mas ralhar sem razão parece ser um desperdício de energias e de tempo. Sem dinheiro não existe espaço político para outras escolhas."


E vai dai escreveu esse texto no AO de hoje, 26 de Outubro. Não deixa de ter razão. Mas a "crise" é muito mais do que isso e não pode servir de desculpa para muito daquilo que nos andam a fazer.

E depois há aquela máxima: "Uma imagem vale mais do que mil palavras!" E uma cartoon vale mais ainda umas duas ou três. Principalmente de for do Henrique:

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