Mão de Beiças - panem et circenses está a dar o berro

“Sanjoaninas somam prejuízo de 300 mil”

“As Sanjoaninas 2009 resultaram num prejuízo que ultrapassa os 300 mil euros para além do orçamentado, valor que foi confirmado a DI pela presidência da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo, Andreia Cardoso.
Segundo fonte camarária, destes 300 mil euros cerca de dois terços estão directamente ligados à realização da Feira taurina se São João, sendo o restante montante relativo a gastos com várias áreas das festas de Junho.
(…)
Recorde-se que entre 2002 e 2008 as Sanjoaninas acumularam uma divida de 1.5 milhões de euros.
A autarquia assumiu um plano de transferências financeiras para a Associação Cultural Angrense (parceira na organização das festas antes de 2009), que se estende até 2019, sendo que as tranches anuais variam entre os 176,8 mil euros e os 138,5 mil euros."

In Correio dos Açores de hoje, 10 de Fevereiro de 2010.

E depois há ainda quem afirma que não vivemos acima das nossas possibilidades.”

Fazem-me muita confusão pensamentos como o do senhor Bruno que no In Concreto afirmou. “é com pena que vejo alguém confundir despesas para festas profanas, que trazem turismo, desenvolvimento e retorno financeiro com catástrofes naturais que são suportadas em grande parte pelo Governo...Estudem e depois venham falar e mandar "bitaites"...”

Confundir despesas para festas profanas com catástrofes naturais. O dinheiro não vem todo do mesmo lado, do nosso bolso?! E se até o Tibério e o presidente da Câmara da Praia acham 500 mil euros que a autarquia vai gastar este ano nas suas festas é um valor “elevado", porque é que continuam a insistir! Vamos continuar a cometer o mesmo erro até quando? E para quê? Só para poder dizer que “as maiores festas profanas dos Açores”?! Não pode ser. E não me digam que é um forte cartaz turístico, porque não é, e sabem muito bem disso. A Natureza, as paisagens, o Mar, a gastronomia e sobretudo o carisma do nosso Povo chama turistas. Gastos desnecessários em cortejos megalómanos, fogos de artifício gigantescos e afins, não cativam mais do que um dúzia de turistas. Mesmo os nossos melhores turistas, os nossos emigrantes, não nos vão deixar de visitar só porque não foram gastos balúrdios desnecessários, dinheiro esse, que não temos.

Não estou a dizer com isso que devemos extinguir com as festas nos Açores. Não! Mas gastar 900.000€, para as festas da Praia, por exemplo, é muito, mas muito dinheiro. Em vez de grupos musicais de fora, porque é que não convidem os nossos grupos. Não faltam por aí bandas de garagem, grupos de jazz, grupos vocais, folclore… ainda para mais estamos a falar na Terceira. Berço de artistas (ou então, fazem as festas que quiserem com o orçamento que quiserem, eu não tenho nada a ver com isso, mas também os meus impostos não têm nada a ver com isso, se faz favor). Não faz muito sentido e mais cedo ou mais tarde, vamos todos pagar por isso. Aliás já estamos todos a pagar. Vejam o que está acontecer em Angra, e aqui na Vila Franca. Mas esses não devem ser os únicos. Haverá muitos mais, estão ou melhor camuflados ou a nossa comunicação social é muito fraquinha. Ou então os dois.

7 comentários:

divagador disse...

mão de beiças é pouco

deviam ser era obrigados (os governantes) a pagar a divida

sacanas...

Tibério Dinis disse...

Jordão,
fica mal complicares as Sanjoaninas com as Festas da Praia. Aliás, se as Sanjoaninas chegou ao ponto que chegou é porque não houve a devida transparência. Desafio-te a pesquisar quais as festas dos Açores que apresentam o orçamento detalhado.

Quanto às despesas em festa ou em catástrofes naturais, é diferente do que pensas. De facto é tudo dinheiros públicos, mas têm rúbricas e processos diferentes. Além disso, o que vai ser gasto na Agualva é muito, mas mesmo muito superior a estes 500 mil euros.

Já tinha respondido sobre "E não me digam que é um forte cartaz turístico, porque não é, e sabem muito bem disso. A Natureza, as paisagens, o Mar, a gastronomia e sobretudo o carisma do nosso Povo chama turistas.". Passo a citar o comentário no In COncreto "A situação que referes dos turistas não é bem assim... Porque os emigrantes e turistas optam por um período temporal, normalmente optavam pelas Sanjoaninas e era ai que a Terceira tinha uma enchente. São muito poucos os que vão às sanjoaninas e à Festa da Praia. E os cabeças-de-cartaz apesar de serem caros são os que mais atractivos, são os que têm maior retorno. pe. O palco principal e dream zone terá uma despesa de 400 mil e só em entradas está previsto 170 mil fora restantes receitas naquele espaço muito cobiçado pelos empresários (na Praia cobra-se entrada). O Palco Principal é das vertentes mais sustentáveis.

O modelo de "festa tradicional" os cortejos, são os que na relacção despesa/receita perdem mais, porque as pessoas podem ver e vão embora e não gastam nada. Contudo é o "prato" tradicional e dos mais apreciados.

Os artistas da ilha também são "convocados" e ai reside muito do sucesso destas festas. Divide-se em três palcos "Tradições", "Mundo" e o Principal. Há um palco com terceirenses a actuarem a semana toda, desde tradições como as danças de carnaval (que enche a praça com emigrantes:). No mundo há sempre 3 ou 4 dias reservados a artistas dos Açores.

O valor ainda é alto, vamos reduzindo aos poucos e encontrando alternativas. É que apesar de tudo o grande pico de visitantes ao concelho da Praia é nestas festas, porque a Praia é o concelho "secundário" da Terceira e durante o ano é muito díficil concorrer com o centro histórico de Angra."

Desafio-te a concretizar e a exemplificar que a Festa da Praia não aposta nos artistas locais. Até porque referes exemplos que apostamos, alguns exemplos: no ano passado houve uma banda terceirense no palco principal; até temos um dia de danças de carnaval em Agosto; há um dia para os foclores, alguns para as filarmónicas, várias bandas da terceira nos palcos secundários, etc.

Haja Saúde

Tibério Dinis disse...

Uma adenda: deixo aqui o programa das festas do ano passado para confirmares o que digo http://www.festasdapraia.com/ficheiros/pdfs/programa.pdf

Jordão disse...

Tibério,

“Desafio-te a pesquisar quais as festas dos Açores que apresentam o orçamento detalhado.” Ora vamos a isso: Festas em honra da Nossa Senhora das Vitórias, Santa Bárbara, concelho da Ribeira Grande, de 2008 – assim por alto, tiveram um lucro de 5000€, portanto mais receitas do que despesas.

“Quanto às despesas em festa ou em catástrofes naturais, é diferente do que pensas. De facto é tudo dinheiros públicos, mas têm rúbricas e processos diferentes. Além disso, o que vai ser gasto na Agualva é muito, mas mesmo muito superior a estes 500 mil euros.” Mais fácil ainda: mudasse as “rubricas” e o “processo” e já está resolvido. Foi muito superior a 500 mil euros, correcto mas esses 500 mil euros já ajudam qualquer coisa.

Tibério, isso não pode continuar assim. Vivemos muito acima das nossas possibilidades. Não podemos continuar com esse facilitismo, em que tudo é de graça ou quase. Os grandes concertos têm que ser auto-suficientes. Sei que se não fossem os apoios das entidades oficiais, quase nenhum ou nenhum mesmo, acontecimento cultural teria lugar nos Açores. Mas até nisso há que haver bom senso e equilíbrio. É que falta muito pouco para ficarmos como a Grécia.

Um abraço.

Tibério Dinis disse...

de pc alheio.

Jordão queres comparar as festas de Nossa Senhora das Vitórias com a Festa da Praia? O movimento económico que gera etc? Além de que uma é profana e outra é religiosa. A procissão de Nossa Senhora das Vitórias atrai sempre muita gente, basta fazeres a procissão e uma tasca e tens logo lucro. Para isso basta comparar com festas das freguesias da Terceira, pe. As Festas da Praia têm um fluxo muito superior e com impacto económico brutal. Eu continuo a dizer que é muito, temos que reduzir. Mas para uma Festa onde já se gastou 1,2 milhões e está-se a reduzir 10% sem colocar em causa o impacto económico que gera é uma boa solução - o caminho é reduzir sem colocar em causa o impacto económico positivo. No plano da ilha terceira, se acabares com as Festas da Praia, acaba literalmente muita iniciativa económica do concelho. É fácil dizer feche-se a torneira e depois? Estamos a falar de uma festa que enche aviões e barcos, enche pensões e hoteis.

Como referi os concertos têm receitas os modelos de festa tradicional, como os cortejos não, porque posso sair de casa ver o cortejo e ir embora sem gastar nada (o problema não é se os artistas são de fora, o problema é se gera receitas ou não. A Tourada de Praça é tradição e tudo mais e dá despesa).

Haja Saúde

Anónimo disse...

Mas quando beberam, comeram e pularam nestas festas não se queixaram. Julgavam que isto era só beber, comer e pular, à borla?!?

Jordão disse...

Tibério

Imaginemos que não se realizavam as Festas da Praia (já agora, por curiosidade pessoal, quem se lembrou de começar essas festas e como começaram? A semana do Mar toda gente sabe como começou, as festas de S. João, em Angra, também mas as outras festas do mesmo género da Praia não seu bem como começaram. Não têm impulso religioso ou histórico, ou estarei enganado?), achas mesmo que os nossos emigrantes cancelavam a sua viagem à terra que os viu nascer?
A taxa de ocupação do hotel, residenciais e Quintas, até pode aumentar qualquer coisa naquela semana mas não é nada que justifique o tal gasto de 500 mil euros dos nossos impostos. Veja lá se a Quinta dos Figos, por exemplo, não tem a época alta toda uma boa taxa de ocupação. Cortejos, fogos de artifício (à excepção do da Madeira e de Sidney), touradas de praça, só chamam mais de meia dúzia de visitantes, literalmente falando. Não são esses os nossos atractivos. E tu sabes bem disso.

“As Festas da Praia têm um fluxo muito superior e com impacto económico brutal”queres mesmo que eu acredito nisso?! Pode até ser significativo, para a dimensão do concelho mas nunca ultrapassará os 500 mil euros (nos outros anos muito mais) dos nossos impostos que são gastos.

“A procissão de Nossa Senhora das Vitórias atrai sempre muita gente” nem por isso. Se calhar as festas são é muito bem dimensionadas e por isso o lucro. Aliás, não faltam, na nossa região, exemplos dessa mania das grandezas e o problema é que não aprendemos. Vê por exemplo o incongruente Paços do Concelho, em dimensão e estilo, face à extensão da vila das Lajes das Flores. Mas não fugimos à regra do resto do país, podíamos era ser a excepção. Mas não, tivemos que seguir o caminho errado dos 10 caríssimos novos ou reconstruídos estádios de futebol para o Euro2004, das quase três auto-estradas Lisboa Porto, do futuro aeroporto de Lisboa (que vai ao contrário de todas as outras grandes cidade mundiais – por exemplo Montreal que construiu, para os Jogos Olímpicos de 1976, um aeroporto a 39 km do centro da cidade, encerrando o já existente a 15km do centro financeiro, finalmente as autoridades abriram os olhos e a situação inverteu-se, o aeroporto de Mirabel está prestes a encerrar e o Aeroporto Internacional Pierre Elliott Trudeau está na máxima força), o Edificio Tranparente, junto ao Castelo do Queijo, no Porto, que durante anos ninguém sabia que destino teria, enfim, ficaria aqui o resto do dia.
Festas sim, até porque somos um Povo alegre, mas dimensionadas à nossa Região e, principalmente, à nossa carteira. Por exemplo, porque é que não aposto na divulgação das nossas tradições de Carnaval?! Os bailes em S. Miguel e na Graciosa, a batalha das limas em Ponta Delgada, as danças e bailinhos de Carnaval da Terceira. Seria uma excelente maneira de animar uma época de ano bem carente, para o nosso turismo.

Um abraço