I rest my case #123 - ainda a propósito dos 70 cêntimos

“Não é anedota” by Rui Simas cronista do Açoriano Oriental.

"Estou a escrever pela primeira vez o meu artigo semanal com dois dias de antecedência. Isto prende-se com o facto de a minha planificação de trabalho ter sido atropelada por um incidente que no mínimo soa a caricato. Estou a escrever este artigo na terça-feira e , se bem que não seja uma terça-feira gorda, não deixou de ser um dia de comédia. Espero que, hoje, quinta-feira já esteja em terras do tio Sam, caso contrário é sinal que a minha semana de férias se cingiu ao aeroporto João Paulo II. Mas vamos então à minha terça-feira. Seis horas da manhã no Aeroporto com destino à Terceira para apanhar a ligação para Oakland. Check- in feito e depois de conseguir que não me apalpassem lá fui para a sala de embarque. Aquele atraso anunciado na véspera do voo da Sata para a Terceira já era facto consumado e a expectativa curada. Mais um atraso de 15 minutos nada nos feriu e a seguinte meia hora veio culminar com o cancelamento do voo. E lá se foi a ligação para Oakland! Apesar do mau humor e da péssima informação que a “menina de azul” me deu, a direcção e as chefias da Sata prontamente solucionaram e controlaram a situação ao contrário da brejeirice que aquela “menina de azul” proferiu sugerindo-me que me “desenrascasse” e que apanhasse o voo para Boston, depois se quisesse compraria uma viagem até Oakland. Fiquei perplexo com tanta inteligência num corpinho só. Não fosse a intervenção superior da Sata a esta hora ainda estaria a escrever no livro de reclamação sugerido pela “menina de azul”. Escusado será dizer que depois de nos colocarem no voo para Boston lá tivemos que ir à sala das bagagens recolher a nossa, para ir logo fazer o check- in para Boston. Já passava do meio dia e a fila de espera para a reconversão dos bilhetes nunca mais terminava. Valeu-nos que a simpatia e a determinação da restante equipa que nos atendeu logo fez esquecer a destrambelhada. Lá fui almoçar e regressei para o embarque previsto para as 16h40. Esperei que chegasse a horas decentes para ligar para a Califórnia informando que já não chegaria no voo da Terceira, mas sim num outro no dia seguinte via Boston. Já levava dez horas intensas de confraternização com a simpática equipa da Sata no Aeroporto. Éramos ao todo quinze passageiros no mesmo dilema. Para explicar o porquê de estar a escrever este artigo em casa e não no voo para Boston deve-se ao facto do mesmo ter sido cancelado. E com este cancelamento fui dar mais uma voltinha à sala das bagagens para recolher as malas que muito se divertiram nas passadeiras. Em nada posso comparar, mas foi a primeira vez que fui dar um passeio às minhas malas quase em semelhança daquilo que faço com os meus filhos numa ou outra “feirinha” de gincanas. Foram catorze horas de Aeroporto, duas filas de espera, uma de duas horas, outra mais estreita, duas fugidas das apalpadelas e muito mais. Foi muito giro, colocava as malas no Check-in e quase que ia a correr para a sala das bagagens buscá-las. Só me deixaram fazer isso duas vezes porque penso que a hora já era tardia e aquilo devia ter hora de fechar. Relato este episódio desta forma porque de facto a equipa da Sata que nos acompanhou no aeroporto foi de um profissionalismo exemplar fazendo-nos passar aquelas horas sem darmos por elas. Posso dizer que foram assumidamente profissionais e superiormente humanos. Acabei por saber que os cancelamentos se deveram a uma atitude intransigente e desumana do pessoal de cabine que exigiu o cumprimento de contrato até à vírgula, marimbando-se para os passageiros, para os Açores e para a dignidade que os direitos laborais possam ter nestas circunstâncias. Se é uma profissão de risco; concordo. Mas mais risco é se fossem profissionais no desemprego. Se de facto percebessem que os direitos não são exclusivos entenderiam o desgaste que causaram aos passageiros e o desfalque que causaram à Região. Gostaria de saber se na realidade assim foi porque, se verdade foi, é triste e indigno enlamearem o bom nome da Sata, sobretudo, a quem nos visita."

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