Hipoglicemia - "Retrato Fiel da Realidade"

"Estão há dias a fio na frente de fogo, com a roupa colada ao corpo, alimentados a sandes, bebem poucos líquidos e dormem muito pouco. Quando pedem reforços a resposta é a mesma há dias: "Não há." As rotações não estão a ser feitas e há bombeiros que chegam a estar 24 horas na frente de fogo. Mal alimentados e sem descanso, os operacionais dão sinais de exaustão.

Desde que há uma semana começou a aumentar o número de fogos, nos quartéis, o serviço é feito em regime non stop. Um bombeiro de Oliveira de Frades, que por razões disciplinares prefere o anonimato, contou que foi chamado para um incêndio na segunda-feira, onde esteve "até terça à noite", altura em que "dormiu cinco horas. Às 7.00 de ontem estava de novo na frente de fogo".

Em Cabanas de Viriato outro bombeiro adiantou que "desde segunda-feira que dormir é no carro, quando se pode. Alimentação são umas bifanas, quando as mandam, e sumos". Em Vila Nova de Paiva as queixas são iguais. "Chegámos ao fogo de Carregal à hora de almoço e a primeira alimentação chegou perto da meia-noite."

"A falta de descanso, para recuperação, faz aumentar o risco de acidentes", alerta o presidente da Associação Médicos de Emergência. Para que o bombeiro suporte tantas "horas na frente de fogo são precisos alimentos e água para evitar a desidratação", adianta Vítor Oliveira. "É preciso uma logística, que forneça líquidos, alimentos, um período mínimo de descanso e condições de higiene." E quando o fogo demora mais de 12 horas a ser extinto, "o tempo máximo para estar numa frente de fogo", alerta, "tudo piora".

"Cada corporação tem em média duas dezenas de operacionais que aparecem sempre à chamada e que estão na primeira linha", contou ao DN uma fonte do Comando de Operações de Socorro de Viseu. A grande maioria destes bombeiros "não é rendida, por falta de efectivos, e acumula horas na frente de fogo". E após "pequenos períodos de descanso voltam novamente ao teatro de operações porque todos os meios disponíveis estão empenhados e não chegam", concluiu.

A Protecção Civil, que comanda os bombeiros, não impõe tempos máximos nas escalas de serviço ou nas frentes de fogo. Em muitos quartéis, onde a dificuldade de mobilização é maior, as escalas ostentam o mesmo nome dias seguidos. Uma realidade que é confirmada pelo comandante dos Bombeiros de Poiares e responsável pela protecção civil na Associação Nacional de Municípios. "Quem se esforça são os bombeiros, que estão na primeira linha e têm que acudir a todas as situações". Jaime Soares lembra que o actual sistema "está mal planeado, não equacionou rendições de homens, nem substituição de equipamentos". "Gastam-se milhões numa estrutura paralela que não se vê na frente de fogo", acusa, apontando o dedo à Protecção Civil. O DN pediu esclarecimentos à Protecção Civil que não foram prestados.

Por outro lado, nos incêndios vêem-se bombeiros sem capacete, luvas e sem as botas especiais. Nas viaturas o panorama é pior. Apenas as equipas de primeira intervenção estão devidamente equipadas e isso não acontece em todas as corporações. Apenas estão equipados cinco mil bombeiros "da primeira linha", cerca de metade, afirmou Duarte Caldeira, presidente da Liga de Bombeiros."

Tudo isso retirado do nosso vizinho Bombeiros para Sempre.

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