“«Para dançar o tango são precisos dois», disse José Sócrates lamentando ter-lhe faltado par durante tantos meses. E encontrou finalmente um amigo para a dança. Na verdade, menos TGV, mais tributo solidário, e a coreografia está bem coordenada.
Passos Coelho culpa o Sócrates pelo estado a que chegámos, Sócrates culpa o Mundo. Mas culpas à parte, porque nem um nem outro sabem melhor, têm a mesma receita: a recessão económica como salvação nacional. A questão é apenas saber qual deles, daqui a uns anos, vai culpar o outro. Há umas décadas que o debate entre os dois partidos se resume a isto.
Só que este tango é arriscado para os dois.
Sócrates precisa de Passos Coelho porque todos sabem que, sendo provável que ele venha a ser o próximo primeiro-ministro, tem de estar amarrado de pés e mãos às decisões que agora se tomam. Basicamente, o primeiro-ministro já está a passar a pasta. E é essa a imagem que passa ao País.
Passos Coelho quer encontrar a quadratura do círculo: participar na política de austeridade, ganhar a taça da responsabilidade e deixar para José Sócrates os espinhos da impopularidade de cada uma das medidas.
Enquanto a coisa é só notícia de jornal passa bem. Mas quando chegar a sério ao bolso dos portugueses a música será outra e o tango bem mais difícil de dançar. O PSD pode aguentar algum tempo esta esquizofrenia de governar com o PS à tarde e fazer oposição à noite. Mas vai chegar o momento, quando as coisas começarem realmente a doer, que não pode fazer oposição à custa das consequências das medidas que ele próprio aprovou. É que a suposta imagem de responsabilidade tem um preço: o da responsabilização pelas medidas que se apoiam. Não se pode querer ter tudo e o seu contrário.
Talvez o PSD aposte no intervalo que aí vem. Primeiro será o Mundial. Quando o Mundial acabar vêm as férias e o país fica dormente. Depois das férias o ano político recomeça mas logo arranca a campanha eleitoral para as presidenciais. Só depois, com a crise social e económica já bem presente, o líder do PSD terá de enfrentar a realidade. Esperará, talvez então, que o governo esteja maduro para cair. Este é o único timing possível para as coisas lhe correrem bem. Com este intervalo grande talvez possa manter o guião da novela. Depois disto a coisa já não pega.
Ou seja, ou temos eleições daqui a um ano ou Passos Coelho poderá pagar o preço do seu pezinho de dança com Sócrates. E não custa perceber que, passado o tempo do seu estado de graça, seja o próprio PSD, onde não falta gente mal disposta com as escapadelas do líder, a pedir a cabeça do rapaz.
Se Passos Coelho conseguir cumprir este guião, teremos então, daqui a um ano, um Sócrates 2.0, com trabalhos forçados para os desempregados e sem TGV. Se não, e o Sócrates original se aguentar ao leme do Titanic, a guerra voltará ao PSD."
Retirado daqui.
1 comentário:
Eu apostaria na 2ª hipótese: "teremos um PSD novamente em guerra".
O que é que José Sócrates e Pedro Passos Coelho têm em comum?
1- O café Sical é o melhor café do mundo (para mim, claro).
2- Ambos prometem e não cumprem.
3- O bacalhau vai ficar ainda mais caro.
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