"Durante uma hora, na RTP, José Sócrates arranjou tempo para falar de quase tudo. Mas nem um minuto sobrou para dizer umas palavras sobre como tenciona minorar os efeitos sociais que se esperam da recessão que as medidas decididas pelo governo e pelo PSD vão provocar.
Mas, em abono da verdade, José Sócrates está bem acompanhado. Hoje discute-se no Parlamento o “tributo social”, uma ideia apresentada pelo PSD que nem Paulo Portas se atreveria a propor. Um nome bonito para a mais pornográfica das demagogias. Uma punição social para os desempregados, tratados como pedintes ou pessoas sobre as quais recai a suspeita de se limitarem “a viver de expedientes” (a expressão é da exposição de motivos do projecto do PSD), e não como trabalhadores que recebem um subsídio que pagaram antecipadamente com os seus descontos. O dinheiro da segurança social é dos trabalhadores. Serve para isto mesmo. Não é uma esmola ou um favor. Coisa que um eterno jotinha, que quer mão de obra gratuita em vez de dignidade, nunca perceberá.
O silêncio de José Sócrates e os insultos de Passos Coelho mostram bem para onde estamos a caminhar. Graças ao acordo cozinhado pelos dois o desemprego vai aumentar ainda mais. Mas a preocupação destes senhores não é encontrar soluções para minorar o sofrimento daqueles que serão as maiores vítimas da crise. Um dá sinais de os querer ignorar (e até acha que diminuir o subsídio de desemprego é um incentivo para estes preguiçosos trabalharem), o outro tenciona usá-los para fazer populismo fácil, tratando-os como aldrabões e parasitas.
Têm estes dois fanfarrões coragem para pôr a banca a pagar o mesmo de IRC que as outras empresas? Ou para taxar a sério os prémios absurdos de gestores que sugam uma parte significativa das despesas em trabalho? Claro que não. Já se percebeu que os suspeitos desta temporada serão os do costume. E assim, talvez os portugueses se entretenham a culpar os desempregados pela sua desgraça e outros, também do costume, se escapem entre os pingos da chuva.
Na Islândia, ex-ministros e directores de bancos são investigados, detidos e arriscam-se a penas de prisão pesadas pelas suas responsabilidades criminais na crise que aquele país atravessa. Em Portugal também haverá condenados. Serão, como sempre, os mais desgraçados entre os desgraçados. É a sina deste país. Não é por acaso que é o mais desigual da Europa. Também o será na factura que vamos pagar nesta crise."
Daniel Oliveira é um senhor. Eu sei que estou a repetir-me mas ele merece. Mais um texto retirado daqui.
3 comentários:
Amigo Jordão!!! estou a dever-te um almoço, quando pode ser?
Temos o país que merecemos.
Amigo Red Boys on Fire. Assim não tem piada! Era suposto eu pagar e assim estávamos todos contentes!
um abraço e que para a próxima época que continuem com a mesma força. Vocês são a alma daquele clube!
Enviar um comentário