O Expresso das Nove lançou ontem, pelo seu vigésimo aniversário, 25 Março, uma edição especial, intitulada “Desafios dos Açores para o século XXI”, onde convidou 100 personalidades Açorianas com particular conhecimento nas áreas da economia, política, ensino, jornalismo, ciência, cultura, artes, letras, religião. Ainda não tive tempo para ler todos os textos, confesso mas já li o do professor António Gomes de Menezes. Gostei mas tive que ir 3 vezes ao dicionário e duas à casa de banho. Ele podia por intervalo a meio. Ainda assim aprendemos, através do professor, que a aviação civil é responsável por apenas 2% das emissões de CO2 mundiais. Muito menos do que as 14% da agricultura. Portanto, um A320, tipo o Diáspora polui muito menos do que a Malhada, a Mimosa ou a Estrela. Mesmo sem arrebites.
O texto do nosso Luís Filipe Borges está um espectáculo (já agora não perca mais logo o ultimo 5 para a meia-noite dessa séria). Digam se não concordam:
“Sempre que sou multado – sim, acontece amiúde – e a polícia me pergunta a profissão no intuito de preencher o auto, não sei o que dizer (o que contribui sobremaneira para a alcoolizada impressão com que os agentes ficam do infractor). Argumentista, comediante, cronista, criativo, apresentador? Apetece-me francamente escrever apenas “açoriano” – algo pelo qual não sou obviamente pago para ser, mas sem dúvida a “actividade” de que mais me orgulho e não canso nem cesso de publicitar.”
E de entre outras figuras, saliento a minha conterrânea Madalena San Bento, professora a qual incutiu, e muito o gosto pela leitura. Gostei também do texto de Sidónio Bettencourt. Mas o que mais gostei foi do Cristóvão de Aguiar. Está um mimo, ou não fosse ele, também meu conterrâneo e ter falado da minha freguesia! Deixo-vos com um pequeno excerto:
“Muito gosto eu de desafios! Quem me tira um tira-me o mar e tudo! Não sei se o Arquipélago gosta deles. É natural que sim. Pelo menos, as cantigas ao desafio têm sido timbre de qualidade da cultura popular das Ilhas todas. A Terceira e São Miguel levam-lhes as lampas.
O velho Virgínio da Bretanha; o Pereira, da antiga Lomba de Santa Bárbara, da Ribeira Grande; a Turlu e o José da Lata, da Terceira, foram dos melhores cultores do despique entoado no terreiro das cantigas ou nas cantigas de terreiro. Devo ter deixado dezenas e dezenas na sombra… A omissão é filha legítima da minha ignorância. Para ela, peço uma indulgência plenária...
Sai o primeiro cantador, o Virgínio, e entoa: “Entre merda foste nascido /E na merda foste gerado /Muita merda tens comido /E dela toda tens gostado…” E o Pereira, da Lomba de Santa Bárbara: “Ainda me chamas galo, /Desses que andam pela rua /Já me viste a cavalo /Nalguma galinha tua?” Da Turlu, que, in illo tempore, ouvi despicar, boquiaberto, tamanho o aguçamento de língua e o seu poder criativo, estas duas cantigas: “A felicidade vagueia, /Fumo que passa veloz, /Está sempre na nossa ideia /E tão distante de nós…” e “A minha língua é comprida, /O que diz não te convém…/ E a tua está torcida /Por isso não fala bem…” A seguir, entra José da Lata e canta: “Deitei uma velha em choco, /Dentro de um cesto de palha, /Lá na Canada das Vinhas. //Descascou-me vinte ratas, /Cinquenta e duas patas /E trinta e cinco doninhas. //Tinha pombas e coelhos, /Melros pretos e tintilhões, /Uma porca com cabritos /E uma cabra com leitões.”
Parabéns ao Expresso das Nove, pela iniciativa, parabéns pelos 20 anos e obrigado pelo exemplar que chega-nos, religiosamente e gratuitamente, todas as sextas-feiras ao quartel!
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