Sabe bem ter vizinhos destes

“O Senhor Comentador não só concorda com Marques Mendes como até acha que ficou curto”

“É difícil não concordar com Marques Mendes quando afirma que considera uma vergonha que políticos acusados, pronunciados ou condenados por crimes especialmente graves sejam candidatos a cargos públicos. Num mundo diferente nem sequer era preciso ter uma lei para oficializar a ilegibilidade. Mas longe vão os tempos em que as pessoas se suicidavam por vergonha. No entanto, quando o presidente da Associação de Municípios diz que seria inconstitucional pôr em perigo a presunção de inocência, tem alguma razão. Mas pouca. Até acho que nenhuma. Se por um lado é verdade que ser arguido não é ser culpado, é também verdade que aquele cidadão deixou de ser o que se diz totalmente inocente, no sentido em que está a ser investigado. É uma espécie de limbo e todos recordamos que a alma quando está no limbo pode acabar no paraíso ou dar para o torto. Claro que há arguidos mais arguidos que outros. Por exemplo, ninguém julgaria inconstitucional não oferecer a direcção do Banco de Portugal a Oliveira Costa, do BPN, ou a João Rendeiro, do BPP, embora estas pessoas possam ser inocentes das acusações. Compreendo os americanos quando um candidato à presidência fica fora de jogo se for suspeito de um banal adultério. Os eleitores podem ir às meninas regularmente, mas ninguém quer alguém igual a nós a dirigir os nossos destinos. A lógica é simples: se engana a mulher com quem é casado e tem filhos, como não me vai enganar a mim, que não conhece de lado nenhum? È por isso que Fernando Ruas está completamente enganado. Os candidatos eleitos pelo povo têm de ser melhores que o povo. Pelo menos nas coisas elementares como não serem suspeitos dos tais crimes graves de que fala Marques Mendes, como corrupção ou fraude fiscal. Para isso estamos cá nós, meros cidadãos, a lutar contra as vicissitudes da vida como impostos descomunais e salários baixos. Fora isso, tudo bem.”

Carlos Quevedo no seu: O Senhor Comentador.

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