“Gonçalo Cadilhe nasceu na Figueira da Foz em 1968, onde reside habitualmente. Precisou de uma licenciatura em Gestão de Empresas e de sete meses a picar o ponto para compreender que não tinha percebido nada da vida: tudo o que lhe interessava se encontrava na direcção oposta. Despediu-se do emprego, da família e do país e começou a viajar e a escrever. Iniciou a actividade de jornalista independente na Grande Reportagem, colaborando actualmente com o Expresso.”
Nas 291 páginas, Cadilhe, que não têm nada em comum com o seu homónimo da banca, descreve momentos únicos. Desde viajar com uma comitiva gay de Lisboa a Madrid, no último dia do ano e cujo o lema era: "entrem bem no novo ano e em muitos outros ânus". No entanto há uma referência, pequena é certo, com o tal reformado de luxo – “for the money, my friend”, é resposta que quase todos os marinheiro, seus companheiro de viagem, nos grandes porta-contentores, dão à pergunta: “porque é que trabalha aqui?”.
O rigor alemão espelhado nos oficiais dos navios, contrastando com a alegria dos filipinos, o sorriso perdido com as utopias da América latina, a simplicidade da vida, tudo isso encontramos descrito nas compilação de crónicas que depois de lidas, com muita facilidade, diga-se de passagem, dão uma imensa vontade de seguir-lhe os passos.
Cadilhe constatou, no seu “coast to coast americano”, que durante a sua vida, um americano muda de casa 13 vezes, de província 4,75 vezes e de estado 2,3 vezes. E as recordações, as memórias, como é ficam!? Isso na Europa seria impensável, mas nos Estados Unidos como é tudo feito por igual não se notam diferenças de cidade para cidade, de vila para vila, de rua para rua.
Há uma cultura de anti negro – Cadilhe também notou isso quando atravessou os Estados Unidos de autocarro e à medida que iam entrando e saindo passageiros, havia um certo paralelismo com a escala das classes. “os passageiros coreanos dão lugar aos paquistaneses, que depois são substituídos pelos recém-chegados do Bangladesh, que por sua vez deixarão o lugar aos niracaguenses e aos haitianos. O que me deixa perplexo é que esta infalível, reconfortante mobilidade social nunca foi permitida aos negros.”. Claro que a viagem teve lugar em 2002/2003, logo Obama não passava de uma miragem. Mas será que isso irá mudar assim tanto.
Deixando o país dos hambúrgueres para trás Cadilhe perde-se por entre o sorriso da pobreza da América Latina, usada e abusada pelo seus vizinho do Norte. Uma passagem que deixa marcas, não só no autor. “Quanto mais ignorantes, melhor para os governantes” conclui Cadilhe quando parte para New Zealand, uma decepção, para nós leitores, já que não há muita descrição do país que muito afirmam ser o mais parecido com as nossas ilhas.
Japão, China, Laos e Índia são percorridos com menor ou maior facilidade até ao Afeganistão. Aí o perigo é de tal ordem que Gonçalo vê-se obrigado a ir contra um dos seus princípios e utiliza o avião como meio de transporte – situação que acontece mais um par de vezes.
Turquia, Bulgária com os seus Sete Lagos e Itália são as últimas paragens antes de encontrar-se com um camionista português que o leva de volta à Figueira.
Mas mais do que um guia, Planisfério Pessoal descreve as sensações que as paisagens, a gastronomia, e os Povos causam num português que herdou o espírito dos nossos descobridores. Sem dúvida a não perder, pena o preço, como diz o Lobo Antunes: os livros em Portugal são “indecentemente caros". A culpa não é só das editoras ou e muito menos das livrarias. Porque é que não se faz como em Espanha onde os livros são livres de impostos?!
2 comentários:
Parece muito interessante o livro, quando for grande tb kero fazer isso... mas primeiro tenho de ter guito,,, eide pensar como ultrapassar esse pekeno promenor...
M.R
M.R sempre pode seguir o exemplo do Cadilhe e pedir um patrocínio ao Correio dos Açores. É só mandar uma carta, registada de preferência, ao seu director, Américo Natalino Viveiros, ou será António?
Enviar um comentário